Ele corria além do limite de
velocidade. O sol brilhava ao fim da estrada e o relógio marcava 14h05min. Em
seu emaranhado de pensamentos, não sabia o que acontecia a sua volta. Muito
menos que na próxima curva, um caminhão estaria parado jogado ao chão, que ele
tentaria frear e que seu carro seria lançado num precipício. Que quebraria uma
perna no primeiro impacto, cortaria parte do braço no segundo, e no ultimo o
vidro perfuraria seu coração e ele morreria como um ninguém, esquecido. Viu
outra placa que o mandava reduzir a velocidade, ignorou. Os olhos estavam
marejados. Seu corpo tremia e sua pele era puro gelo. Pensava nela, somente
nela. Em como ela ficava mal humorada quando estava de TPM, nas noites frias em
que ela puxava toda a coberta para si enquanto dormia. De seu vicio em álcool.
Das noites em que a levou pra casa totalmente embriagada. Pensava em todos os
momentos ao lado da mulher que amava. Corria pra não aceitar o fato de que ela,
já não mais existia. A dor em seu peito era insuportável, desejava a morte a
ser condenado a viver sem ela. As lágrimas tomavam seu rosto. Sofia. Era tudo
que ele pensava. Era tudo que ele precisava. Mas ela estava morta e sem ela o
mundo era só um imenso vazio. Ele sabia que se a situação fosse inversa ela não
teria fugido, teria ficado, teria ido ao seu enterro e talvez até seguido em
frente, entrado na faculdade e conhecido algum cara legal. Construído uma
família. Pra ele, estas não eram uma opção, nunca pretendeu entrar em faculdade
ou criar uma família que não fosse com ela. Sofia. Morta. Sem ter se quer
escutado de seus lábios que ele a amava mais que tudo. Que ele sentia sua morte
a todo décimo de segundo. Mais lágrimas, Victor entrou no túnel, o rádio chiava
e seus dedos começavam a formigar, não sabia há quanto tempo estava dirigindo,
mas sabia que devia estar longe o suficiente da imagem de uma Sofia morta.
Imaginou mentalmente que por um instante ela estivesse ali. Tudo ficou em
silêncio, Victor suspirou e disse: “Eu te amo”. Abriu os olhos, o pânico o
tomou, freou o carro. Seu carro foi em direção ao nada. Então ele fechou os
olhos e repetiu. “Sofia, eu te amo.” O relógio marcava 15h32min. Silêncio.
Porque morrer, é quase tão humano quanto amar.
Porque morrer, é quase tão humano quanto amar.