
O vento uivando, portas batendo, o barulho dos trovões ecoando nos ouvidos, sombras de árvores entrando pela janela, pessoas correndo na rua querendo chegar logo em suas respectivas casas, buzinas, o ruído da chuva que caia sem cessar, essas e outras infinitas peculiaridades caracterizavam aquela noite.
Há horas estava feito uma estátua virada em direção à janela. Respirava fundo, mas calmamente. Deixara as lágrimas rolarem uma a uma, num silêncio de adormecer qualquer um. Aqueles olhos cor de mel estavam cansados, as pálpebras ficavam fechadas durante alguns segundos quando piscava, parecendo que não iriam mais abrir-se novamente. Era assim durante todo o inverno, em um dia qualquer, aleatoriamente escolhido por sua mente inconformada.
Havia preparado duas torradas, passando uma breve camada de manteiga sobre elas. O café que havia sido preparado tão calmamente fumaceava, enquanto podia-se ouvir os assovios da chaleira que estava no fogão. Sentada sobre a mesa velha e sem toalha, colocou duas colheres de açúcar, e rodava a colher dentro da xícara.
Dava olhadas escondidas para o relógio que estava no canto da parede, encolhida com seus braços apoiados sobre suas pernas, baixinho cantarolava canções de ninar, e as lágrimas começavam a descer feito uma forte correnteza num campo livre, verde e sereno.
Ela foi até o banheiro e começou a preparar a banheira com água quente, enquanto terminava de comer as torradas e bebia o resto do café já quase frio. Passando a mão sobre a água quente, tentava ouvir a voz... Mas era respondida com a chuva e a solidão vinda do quarto. Enquanto esperava a banheira encher, levantou-se e foi até o quarto. Seu coração era tomado de dor, e dentro dele pulsava a saudade. Envolvendo a si mesma com seus braços, recostava-se a parede gelada e observava os bonecos que zombavam de sua tristeza, seus olhos passavam devagar pelas roupinhas dobradas sobre a estante.
Nossa que lindo, quantos detalhes, é possível imaginar perfeitamente a cena, parabéns =)
ResponderExcluirMe impressionei. Com o conteúdo e com o final inesperado. Talvez seja um pré-conceito, prefiro crer que seja um conceito formato, mas quando comecei a ler, pensei: 'mais uma história sobre um relacionamento que não deu certo'. E, felizmente, eu estava errado. Ao terminar, recomecei. Ótima descrição do trabalho do luto, como já disseram, detalhada. Simples e sensível. Parabéns.
ResponderExcluirAdorei esse texto :D Parece que eu estava vivendo a cena com tantos detalhes. haha *-*
ResponderExcluirOh, meu bom Deus. Como você escreve com tanta delicadeza... sinto como se eu estivesse ali, junto com ela, em silêncio, apenas ouvindo lamentos, vendo lágrimas. Sinto que estou a ponto de chorar. Não há nenhum véu sobre o seu texto. Estou impressionada.
ResponderExcluirAdorei o post! E fiquei emocionada ao ler, compartilhando de tais sentimentos. Tanto que criei uma personagem toda misteriosa e estou trabalhando nela. E fiquei horas o procurando para relembrar os detalhes.
ResponderExcluirCaso se interesse, mando-te meus rascunhos.
Texto lindo, suave e marcante.
Caramba! É o tipo de texto que me faltam palavras pra formar um elogio a altura. Estou espantada! Que texto intenso, meu causou calafrios. Triste mas lindo! Muito bom mesmo.
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